É o que me interessa

"Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego, atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurre em meu ouvido
Só o que me interessa
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa"

Há mais ou menos 2 anos eu criei esse blog, pois estava no auge todo mundo ter um e contar suas experiências de vida, viagens ou simplesmente compartilhar futilidades. Porém, sempre que tentava pensar em um nome para o blog ou sobre o que o blog trataria, terminava frustrada. Isso acontecia porque queria que fosse algo inovador, alguma coisa que chamasse a atenção de muitos e que fosse lembrado como um blog legal, daqueles que vão sendo passados de amigos pra amigos e, de repente, viram a "sensação" do momento. Nada de extraordinário me vinha à cabeça; nada que valesse a pena compartilhar. Afinal, nunca tive muitos amigos, não viajei tanto assim, nunca fui uma pessoa muito extrovertida, dessas que te gritam no meio da rua a 1 km de distância e ainda trocam confidências, marcam encontros, etc., que chegam em festas e saem conversando e rindo e bebendo com todo mundo (e pior que conhecem a maioria dessas pessoas), beijam não sei quantos em uma única noite, vomitam, bebem mais um pouco, acabam dormindo em qualquer canto e quando conseguem acordar, com uma baita ressaca ou amnésia alcoólica, ainda dizem: "Nossa, a noite foi ótima!!!". Nessas horas eu tinha a confirmação que nada de interessante acontecia em minha vida para ser publicado... Até que o dia de hoje chegou. Muita coisa aconteceu durante esses 2 anos; acontecer no sentido de reflexões, mudanças interiores. Então eu percebi que eu não precisava perder horas tentando escolher um nome descolado para o blog ou inventar um assunto bizarro para fazer sucesso. Bastava apenas ser eu mesma. E é o que vou começar a partir de hoje: escrever aquilo que eu tiver vontade, o que pode ir desde um relato de uma viagem até um pensamento solto, sem me preocupar com as críticas alheias. Assim, escolhi começar com uma música que me tocou muito, que diz muito sobre a vida em tão poucas palavras.

Essa música se chama É o que me interessa, de Lenine, que também compôs Paciência, outra música espetacular a respeito do tempo, esse tempo que sempre nos "falta". Mas essa última vai ficar para uma próxima vez, quem sabe. É o que me interessa, de fato, coincidiu com o que realmente me interessa, com o que, aliás, deveria interessar todo mundo. As interpretações aqui feitas vão conter somente as minhas impressões sobre a música, as minhas opiniões. Não quero saber se está de acordo ou não com o que o Lenine pensou na hora de escrevê-la. Acho que a música e qualquer expressão de arte serve para isso, para tocar as pessoas de diferentes maneiras e formar infinitas opiniões a seu respeito, já que cada ser humano é ímpar e é por isso que inúmeras obras de arte e artistas vêm sendo consagrados há vários séculos: não conseguiram chegar a um consenso sobre o propósito do artista ao criar seu tesouro. Isso é arte. Aquele artista que faz questão que todos saibam o motivo de sua inspiração e o porquê de fazer isso ou aquilo e aquele crítico que primeiramente procura saber essas informações para poder julgar, antes mesmo de pensar por si só e formar uma opinião, estão sendo, no mínimo, superficiais. A verdadeira arte é muito maior, o que explica o fato de uns sobreviverem aos milênios enquanto outros caem no esquecimento no dia seguinte. Mas voltemos ao tema principal."Daqui desse momento/Do meu olhar pra fora/O mundo é só miragem". Não seria o momento em que alguns param para pensar em suas vidas e começam a se questionar sobre o que realmente faz sentido, o que realmente tem valor nesse mundo às avessas? Será que tudo o que nos foi ensinado, tudo o que nos foi dito e aconselhado até hoje é o que deve ser tomado como verdadeiro e absoluto, sem nenhuma argumentação? Eu acredito que não. Devemos estar sempre tentando aprender e melhorar, e também criticando o que nos chega aos ouvidos. Nem mesmo os nossos pais devem ser seguidos às cegas. Eles são humanos, também estão sujeitos aos erros. Por isso o mundo fora de nós, o mundo a nossa volta, é só miragem. Ele é ilusório, pode confundir e trazer sofrimento se não fizermos as escolhas certas, que devem estar de acordo com o que levamos em nosso íntimo, dentro de nós."A sombra do futuro/A sobra do passado/Assombram a paisagem". Isso é a mais pura verdade. Viver somente pensando no futuro, com planos irreais, ou então se lamentando do passado, pensando em tudo que poderia ter sido feito ou mudado, só causam dor e aflição. Posso falar por experiência própria. Quantas frustrações por planos não realizados, desfeitos de uma hora para outra... Quanta raiva de mim mesma por não ter feito certas coisas de outra forma... Até o momento em que comecei a ser mais tolerante comigo mesma, a me perdoar por certas atitudes e tentar esquecer o que passou, pensando que seria melhor dali pra frente, mas sem, contudo, me perder de vista no futuro incerto. Acho que tentar controlar a ansiedade e viver um dia de cada vez é essencial."Quando eu olhar pro lado/Eu quero estar cercado só de quem me interessa". Para quê cultivar amizades infrutíferas, que só são de uma via, cercadas de inveja e interesse, que acabam trazendo amarguras mais cedo ou mais tarde? Para quê continuar um relacionamento amoroso que só traz insatisfação e imprime mágoas difíceis de serem apagadas do coração? A felicidade não é uma constante, assim como a tristeza. Elas dependem de vários fatores, e por isso mesmo vão oscilar em nossas vidas por muito tempo. No entanto, acredito que o bem-estar com nós mesmos e com os outros que nos cercam deva sempre prevalecer a maior parte do tempo. Pode ser difícil, para uns mais que outros, mas não impossível. Nada é impossível. Basta acreditar no potencial que carregamos dentro de nós, acreditar que podemos e temos o dever de ser felizes. Sim, o dever, não o direito; porque não podemos jogar para os outros essa responsabilidade, esperar que os outros nos façam felizes. "Ah, eu não sou feliz porque fulano não me deixa em paz". "Não sou feliz porque ciclano não age do jeito que eu esperava". Não. Devemos buscar a felicidade, fazer aquilo o que nossa consciência nos cobra, fazer aquilo que nos faz bem e, aí sim, ela virá como consequência. "Eu fiquei feliz porque EU ajudei alguém hoje". "Eu estou feliz porque EU consegui terminar o meu curso". A felicidade nossa de cada dia pode estar nas pequenas coisas, mas nós é que devemos nos comprometer a consegui-la e pensar em como consegui-la, mudando tudo o que estiver atrapalhando para alcançá-la (tudo o que podemos ter controle, sem passar por cima de ninguém). Por isso eu também quero estar cercada só de quem me faz bem, de quem eu gosto, que são quem me interessa."Às vezes é um instante/A tarde faz silêncio/O vento sopra a meu favor/Às vezes eu pressinto e é como uma saudade/De um tempo que ainda não passou/Me traz o seu sossego, atrasa o meu relógio/Acalma a minha pressa/Me dá sua palavra/Sussurre em meu ouvido/Só o que me interessa". Às vezes num instante a vida toma outros rumos, ou as coisas parecem melhorar milagrosamente com o vento que sopra a favor, trazendo as respostas tão esperadas... Quem já não teve a sensação de efeito déjà vu, em que tudo parece estar acontecendo exatamente igual a uma situação que ainda não aconteceu? Comigo, particularmente, isso acontece com certa frequência. E, novamente, o controle da ansiedade, acalmar nossas pressas para conseguir um pouco de sossego. Sem falar que devemos nos aprofundar em nossos pensamentos, sentimentos e conversas, sussurrando só o que interessa, ou seja, o que traz bem-estar, paz e harmonia ao nosso ser."A lógica do vento/O caos do pensamento/A paz na solidão/A órbita do tempo/A pausa do retrato/A voz da intuição/A curva do universo/A fórmula do acaso/O alcance da promessa/O salto do desejo/O agora e o infinito/Só o que me interessa". Frases curtas, aparentemente sem nexo, mas que podem nos fazer pensar por horas e horas, e produzir infinitas linhas nessa postagem. Por isso vou tentar ser concisa nessa parte. Será que é possível encontrar paz na solidão? E um retrato que pode ser capaz de fazer o tempo em sua órbita incessante simplesmente parar para nós? O que é preciso para se alcançar uma promessa? E o caos do pensamento, que a tantos desmotiva, inibe, flagela, e até mesmo mata, ao mesmo tempo que pode salvar, consolar, inovar... Como surgem os desejos? E a fórmula do acaso, alguém sabe explicar? O acaso que muitas vezes não parece tão acaso assim... Parece que é muito bem planejado. De onde vem esse poder? A curva do universo... o agora e o infinito. Será que existe algo maior que nós? Não tenho dúvidas. Nada foge aos olhos do grande Arquiteto. E a vida continua, com seus mistérios, dores e magias, esperando cada um de nós usar da melhor maneira possível as ferramentas que nos são dadas para retornarmos ao infinito mais evoluídos do que aqui chegamos. Isso é só o que interessa.